Dois items de vingança
leva o menino a caminho da fábrica
Invejo-lhe a peça de fruta e o hábito da labuta.
Não lido bem com a rejeição é sabido, sou um regionalista com descendência, destemido por natureza.
Pai perdido em combate, assim como
a mãe morta que o carregou,
sem cortesia desmedida, afinal já sabiam da mentira.
A guerra; essa absurda mentira.
Florbela, como saber sofrer a morte dos rapazes na linha da frente? Como enfrentar tanta fome de espirito?
Vapor, vapor
goma na camisa, desgosto na família.
Canta o hino filho.
- Não posso, estou desiludido.
Terei eu sido roedor de porão, ou escravo mesquinho?
Desabafa. Prende o teu estigma à minha falta de embaraço.
Desabafa. Canta para este lado a tua sina fatalista.
Canta porque ainda és criança,
ainda és um furor que não se cansa,
canta Criança, és ainda
uma tarefa de esperança.
Subtilmente perfumando o desengano ao marginal revoltado,
a poesia é de todos, mas esta cresceu incendiária para pânico das massas.
LEGENDA:
A chover e a fazer sol estão as bruxas a fazer pão mole.
Camionista, prosaico galã do operariado, que levava as meninas em gentil passeio nocturno por estradas feitas de luz. Pontos suspensos,
costurados,
constelações em aberto.
- Mas atenção que a menina não sabia.
- Mas atenção, que afinal a menina desconhecia, que ele representa determinado instrumento de profecia
Desabafa meu lindo.
Também te disseram que o trabalhinho é essencial?
O Papa é o activista meu querido!
- Não leste a bula? - Não te entupiste de gula? - Não puseste de lado caso te afectasse alguma loucura, caso te escapasse a maldita fortuna?
O tal Amo ladeiro perfumado
escrevia sobre os descobrimentos em tom de estadista, qualquer biografia de necessidade vigarista. Talvez também nós queiramos esse vicio desajeitado da palavra de honra, servir o argumento contundentemente agnóstico da submissão.
Diz que ainda somos uns quantos com vozes na cabeça,
Mãe morta, Mãe morta
Leva o teu tempo a bater à porta.
Sabes perfeitamente que uma boa vingança demora.